:BARRIS DE PÓLVORA: Rebelião em Ibaiti expõe vulnerabilidade de carceragens

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BARRIS DE PÓLVORA: Rebelião em Ibaiti expõe vulnerabilidade de carceragens

Amotinados queimaram colchões e destruíram viatura

Ibaiti - A cidade de Ibaiti viveu 12 horas de tensão e de caos na cadeia pública e na delegacia na noite de terça-feira com uma rebelião e fuga de 28 presos. Segundo o delegado Pedro Dini, por volta das 21 horas, o agente de cadeia foi rendido pelos presos da galeria quando estava recolhendo o lixo das celas na ala principal, que possuía 120 presos. Naquele momento a cadeia estava com 157 homens, quando a sua capacidade foi projetada inicialmente para apenas 19 provisórios. Em uma recente reforma essa capacidade foi ampliada para 30 pessoas. De posse de uma escopeta calibre 12 que estava na delegacia, os presos foram dominando os espaços da cadeia e da delegacia.


"Não é algo tão surpreendente dada a superlotação e a fragilidade da cadeia. A gente não esperava do modo como aconteceu, mas dizer que era impensável, isso não posso dizer", afirmou o delegado. Pini ressaltou que o problema da superlotação da cadeia ficou evidente desde 2016. Ele lembrou que este ano a delegacia participou da operação Panóptico, que foi realizada em duas fases na região de Ibaiti, que prendeu 35 pessoas envolvidas no tráfico de drogas e esse volume de presos piorou o problema da lotação da cadeia.

Segundo o delegado, no mínimo 40% dos presos da cadeia já foram julgados e já deveriam ter sido transferidos para o sistema penitenciário. "A gestão da cadeia de Ibaiti é do próprio Depen (Departamento Penitenciário do Estado do Paraná). Eles não acertam nem dentro do próprio órgão", criticou.

Para conter a confusão foram acionadas as equipes de negociação e do Bope de Curitiba, além de equipes da polícia militar de Londrina, Jacarezinho, Joaquim Távora, Santo Antônio da Platina e da microrregião de Ibaiti, além de policiais civis de todas as delegacias da região. A equipe de negociação chegou às três horas da manhã.

Ainda durante a noite de terça-feira, um perímetro amplo de isolamento foi criado no entorno do prédio da cadeia e da delegacia para evitar uma tragédia maior, já que muitos curiosos e parentes de detentos foram ao local. A socorrista Júlia Wallendorf, 20 anos, estava visitando o irmão que mora em frente à delegacia e acabou retida por lá devido à interdição das ruas. "Acompanhamos o tumulto desde às 20 horas. Teve preso que pulou e acabou se machucando e passou aqui em frente. Foi bem tenso. Eu não consegui dormir e não podia voltar para casa, porque estava tudo interditado. Foi horrível, uma cena de horror que vivemos", declarou. Ela relata que já aconteceram várias fugas da cadeia, mas sem rebelião. "Uma fuga dessas com esse tumulto nunca aconteceu por aqui. Daqui da casa eu tinha visão de tudo. Os presos ficaram atirando pedras, xingando a polícia e pondo nela a culpa pela rebelião. Eles gritavam que estavam sem água, sem comida e sem medicamento", destacou.

A dona de casa Luciane Ferreira, 28, casada com um dos detentos, não escondeu a apreensão pela falta de notícias. Ela relatou que surgiram boatos de que havia pessoas mortas na rebelião. "Os presos pediram um mutirão (carcerário) e isso não aconteceu. A alimentação é uma porcaria. Teve tuberculose, muita doença. Tem pessoas que já têm direito à liberdade e eles não soltam", declarou.

A balconista Camila Aparecida de Lima, 24, é prima de uma das pessoas presas e chegou no local depois das 21 horas. "Os presos já estavam em cima do telhado pedindo melhoria da cadeia, que estava muito lotada. Tem preso dormindo no chão. Eu acho certo o que eles fizeram, pois a maioria já está pagando o que deve. A condição deles é indigna. Tem pessoal dormindo no banheiro, porque não há local para todos. Há ainda um pessoal que dorme à noite e outros durante o dia, porque não há espaço para todos dormirem ao mesmo tempo."

Márcia Alves, 37, trabalha na fundação municipal e também tem um filho preso. Ela afirma que a rebelião também é decorrente de maus tratos que os presos sofrem dentro da cadeia. Ela até já deu entrada na papelada com um advogado sobre algumas agressões que seu filho teria sofrido dentro da cadeia.

Na manhã desta quarta (15), como as negociações ainda continuavam o comércio das imediações ficou fechado.Noel Lara da Rocha, proprietário de uma funerária próxima à delegacia, ressaltou que a rebelião foi um caos. "Faz tempo que a gente estava vendo aquilo como um barril de pólvora. Já era para ter explodido antes", comentou. "Eu vi o início do rebuliço, mas não me refugiei porque a curiosidade falou mais alto. Não senti medo, porque a polícia estava ali, mas fiquei apreensivo, pois minha família estava aqui", declarou.

Entre os vizinhos o nível de tensão foi bastante alto. O lavrador Edson Pereira da Silva, 70, nem dormiu de medo. "O barulho foi demais. Nós escutamos o estouro dentro da cadeia. Eles ficavam batendo e quebrando as coisas. Quando começou eu estava deitado e acabei levantando com tanta algazarra. A rua estava entupida de gente curiosa querendo ver o que estava acontecendo. Hoje, o motorista que nos leva para a lavoura de café ficou com medo de que os presos pudessem render ele e tomassem o ônibus para poder fugir e tivemos de voltar para casa", lamentou. Ele guarda a imagem dos presos no telhado da cadeia, com bandeiras de uma facção criminosa expostas. "Na vizinhança ninguém dormiu com medo também de ser atingido por uma bala perdida."

A lavradora Hilda Pereira de Oliveira, 87, relatou a dificuldade de seus filhos para saírem de casa para o trabalho, durante a manhã, devido ao tumulto da rebelião. "Eles tiveram que dar uma volta grande porque as ruas daqui estavam todas interditadas. A gente fica com medo de que aconteça algo com eles. A gente fica nervosa. Cheguei até a chorar", disse emocionada.

O momento mais tenso da rebelião, segundo a população, ocorreu por volta das 5 horas da manhã desta quarta-feira, quando os amotinados começaram a arremessar pedras nas viaturas. Os policiais tiveram que recuar e os presos atearam fogo em uma das viaturas.

O Major Emerson Castelo Branco Oliveira, comandante do 2º Batalhão da Polícia Militar de Jacarezinho, comunicou que a rebelião terminou por volta das oito horas da manhã. "A exigência deles era a remoção dos presos condenados da cadeia de Ibaiti. Eles pediam a presença da magistrada e isso ocorreu às oito horas da manhã. Por volta das nove horas um refém foi removido para a o Hospital de Ibaiti", destacou.

A reportagem entrou na cadeia e na delegacia e o cenário era desolador, com muitos objetos e móveis quebrados. Os detentos queimaram boa parte do material que encontraram, inclusive documentos. Só a sala do delegado e da escrivã não foram atingidos. Até o final desta quarta-feira, apenas dois presos haviam sido recapturados.

O delegado-chefe da 12ª SDP (Subdivisão de Polícia Civil), sediada em Jacarezinho, Amir Salmen, afirmou que a rebelião terminou sem grandes prejuízos humanos. "Infelizmente tivemos essa rebelião. Estamos aqui verificando a estrutura da Polícia Civil para analisar como será o atendimento da população carcerária. As investigações e os inquéritos irão continuar. Há esse problema remanescente das delegacias terem presos ao lado, mas o governo do Estado está trabalhando para acabar com isso. Já retiraram de todas as delegacias de Curitiba e vamos caminhando passo a passo no interior. Na 12ª SDP ainda contamos com 750 presos em toda a área da subdivisão.

Vítor Ogawa
Reportagem Local

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Fonte: Folha de Londrina
Por: Redação
Data: 16/08/2018 00h23min

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